quando o incontrolável emerge e quando a idade define tudo!

Todos os dias pipocam posts enobrecendo nossa condição de maduras. São transformações, vivências, documentando o quanto fazemos, desfazemos, o quanto somos fortes, e de condições difíceis fazemos possibilidades infinitas. Bacana, mas nem sempre é assim….

E quando o tempo se instala? Quando o número pulsa em neon, trazendo o que dele nos enfraquece? Isso também acontece ou acontecerá… As fragilidades aparecem, as motivações não conseguem transpor a incapacidade, as vontades desaparecem, deixando tudo para depois ou para nunca, tanto faz.

Vivo me transformando , reinventando , me provocando, isso para mim é vida, mas não posso ignorar que ao meu lado, ou muito perto, em algumas queridas essa força não está conseguindo se sobrepor ao jogar da toalha, ao não resistir às fraquezas. Fácil modificar? não, é preciso desejar ,sonhar…

Perdi minha mãe há poucos meses.. Por estarmos longe uma da outra, quando aconteceu, o processo de luto para mim tem sido mais difícil, me pego todos os dias querendo ligar ou ir vê-la no final da tarde, como se ela não tivesse ido embora. Ainda não elaborei sua ida, mas sei que sua partida foi como ela queria, dormindo, e quantas vezes conversamos sobre isso…Sei também que viveu sempre na sua casa, pouco esteve no hospital e teve tudo que precisou no seu ambiente, no seu espaço conhecido, mas não é assim com todas as nossas queridas.

Hoje, meu lamento e minha reflexão são sobre as que perdem seu poder de estar onde querem e como querem e ficam à mercê de quem acha que sabe o que é melhor para elas. Geralmente, filhos. Julgando? Talvez, mesmo sabendo que não posso. Tentando ser a voz das que não têm mais voz. Pois todos estamos caminhando para esse envelhecer em que a força e o poder da vontade se enfraquecem. Medo de ser submetida, de não poder me colocar, também. Que as vontades sejam ouvidas, que os lugares que oferecem a identidade de cada uma sejam preservados, pois nos localizam e nos acolhem em cantos que são realmente nossos. Esse canto para chamar de seu, a casa onde moramos. Falo das que se reconhecem e ainda querem e merecem ser reconhecidas, falo de dignidade. De generosidade. de não retirá-las dos seus lugares.

Quem em sã consciência deseja deixar seu lar para estar num lugar onde nada é conhecido, nada tem da sua história, nada remete a coisa nenhuma?

Ouvi ou li esses dias,” viva cada dia como se fosse uma grande despedida”, e acrescento, viva em festa!


Daisy Gouveia

Daisy Gouveia

Daisy Gouveia é escritora, influenciadora, host do podcast "Leiture-se". Usa as redes sociais para incentivar a leitura e dá dicas frequentes de como adquirir e manter o hábito.

6 comentários

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Bel Ruiz · às

Sabe, eu tenho pensado muito nisso também, nesse medo de perder o lugar: o lugar da memória, a memória do lugar, ou simplesmente o lugar. De ficar onde não me reconheço, ou pior, saltando de galho em galho, ora com um, ora com outro.
Penso que essas reflexões ou medos caminham lado a lado com o passar dos anos e vão se fortalecendo de expectativas, de novas dores nas articulações (risos). Seu texto mexe com esses pensamentos e como eu sempre digo, chacoalhar pensamentos, ideias e mundo interno é bom porque nos revela outras perspectivas.

    Daisy Gouveia

    Daisy Gouveia · às

    Sem dúvida Bel, a vida tem me chacoalhado, as incapacidades começam a dar o ar da graça, e as incertezas aparecem.

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    Carla Rossana · às

    Olha eu tenho pensado muito no envelhecer. Quero aprender e fazer coisas novas. Acho que é necessário dar uma repaginada na vida e ver o que pode melhorar e acrescentar. Viver sem medo de errar é se culpar se não fez. Cada fase é única.

    Daisy Gouveia

    Daisy Gouveia · às

    acho que a escrita por si só chacoalaha.

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